Parâmetros do Vinyasa Yoga

Traduzido de: The Complete Book of Vinyasa Yoga, de Srivatsa Ramaswami
Tradução: Fábio Furtado


A palavra sânscrita vinyasa é composta por um prefixo, vi, que significa “variação”, e por um sufixo, nyasa, que significa “dentro de parâmetros prescritos”. Os parâmetros prescritos, no yoga clássico, no que se refere à prática de yogasanas, de acordo com os Yoga Sutras de Patañjali, são:

Estabilidade / firmeza / permanência (sthira). Para que uma postura seja considerada como um yogasana, ela deve proporcionar ao praticante a habilidade de permanecer estável, seja sobre os pés (tadasana) ou sobre a cabeça (shirshasana).

Conforto (sukha). O uso da respiração e a cuidadosa atenção da mente sobre ela, que são traços distintivos do yoga, garantem considerável prazer e relaxamento ao praticante.

Respiração suave e longa (prayatna shaitilya). É o método prescrito por Patañjali para facilitar a prática do yoga. Prayatna (esforço) aqui se refere a jivana prayatna, ou esforço de vida, o que, como é fácil inferir, é respirar. Tal condição determina que, ao se praticar os asanas, a respiração deve ser suave e longa. Assim, ao se fazer yoga da maneira correta, não se deve ofegar pesadamente. Em contraste com exercícios aeróbicos (que em si têm seus benefícios), nem o ciclo respiratório, nem o cardíaco devem aumentar enquanto se pratica yoga. O ciclo respiratório normal é de aproximadamente 15 a 20 respirações por minuto. Uma vez que os movimentos no vinyasa yoga são lentos, é preciso, ao fazê-los, diminuir da mesma forma o ciclo de respirações. Um bom parâmetro a ser seguido é não ultrapassar 6 respirações por minuto. Pode-se inspirar durante 5 segundos em um movimento expansivo (como por exemplo ao esticar os braços, ou as pernas, ou ao flexionar as costas para trás) e expirar suavemente ao se flexionar para frente, em torsões, ao se flexionar os joelhos ou em quaisquer contrações similares do corpo.

A inspiração suave acompanhada de um movimento expansivo é denominada brahmana kriya, ou ação (respiratória) expansiva; a expiração durante a contração do corpo é langhana kriya, ou ação (respiratória) contrátil ou redutiva. Quando se inspira ao se fazer um movimento expansivo e, correspondentemente, se expira durante uma contração, isso é conhecido como anuloma, ou movimento/respiração “com o grão” [aqui talvez seja mais adequado “veio”, “de acordo com o veio”]. Exercícios anuloma produzem um efeito de harmonia entre as estruturas respiratórias do organismo e o corpo como um todo.

Embora anuloma seja a regra geral, há situações em que se pode ou se deve expirar durante um movimento expansivo (o contrário, entretanto, nunca ocorre, já que não é possível fazer movimentos de contração ao se inspirar). Pode ser recomendado quando o praticante é tenso, obeso, idoso ou com muito pouco alongamento. Tome-se como exemplo a postura da cobra (bhujangasana). A partir da posição de bruços, adotar a postura da cobra é um movimento expansivo e deveria ser feito durante a inspiração. Mas algumas pessoas especialmente tensas sentem extremo desconforto, já que tendem a enrigecer a musculatura e virtualmente impossibilitar a flexão da coluna. Uma situação semelhante pode acontecer com pessoas obesas, uma vez que a barriga tende a adicionar pressão durante a inspiração. Dessa forma, pessoas em tais condições têm a possibilidade de expirar ao fazerem movimentos expansivos. Cabe ao estudante e/ou ao professor determinar que tipo de respiração é mais apropriada para um vinyasa em particular. Outra regra geral é: “quando estiver em dúvida, faça o movimento durante uma expiração”.

O Padrão Respiratório na Prática de Vinyasa

Durante a prática de vinyasa yoga, deve-se fazer ujjayi, que é a “respiração da garganta”, uma vez que o ujjayi facilita o necessário controle “sem suporte/ajuda” da respiração. Se, ao fazer diversos vinyasas em uma seqüência, a pessoa sentir que se excedeu ou ficar sem ar/com dificuldade para respirar, deve descansar por um ou dois minutos até recuperar a respiração. Quem pratica tais vinyasas com freqüência percebe que o seu ciclo respiratório diminui depois de um certo tempo, tanto durante a prática quanto habitualmente; a mente, da mesma forma, se torna mais calma e contente. Há yogis que conseguem praticar com um ciclo consistente de aproximadamente 4 respirações por minuto, sem se sentirem nem muito pesados nem, por outro lado, apressados. Tais pessoas demonstram extremo relaxamento ao permanecer em uma postura complexa, como por exemplo a parada sobre os ombros, sobre a cabeça, alongamentos posteriores ou mahamudra.

Focar a Mente na Respiração (Ananta Samapatti)

A palavra sânscritas ana significa “respiração” (ana é o equivalente de swasa, uma palavra do sânscrito bastante conhecida que também significa respiração/respirar). Samapatti é total concentração mental. Deve-se focar mentalmente na respiração durante a prática de vinyasa. Cada vez que a mente divagar, deve-se gentilmente trazê-la de volta à concentração na respiração. No mais das vezes, a maioria das pessoas acham fácil manter atenção mental na respiração e sentem satisfação no processo.

Vinyasa krama na prática de asanas do yoga foi o principal pilar dos ensinamentos sobre asana de meu guru. Por 30 anos eu estudei esse método com ele, observei-o ensinando outros alunos e participei de suas conferências-demonstrações. Nem uma única vez eu o vi ensinar a prática de asanas sem vinyasas e/ou respiração coordenada acompanhando os movimentos. Esta é a chave para o correto ensinamento de vinyasa krama. É preciso manter a prática de uma respiração lenta e suave, e também conhecer a variedade completa de asanas. Somente pelo conhecimento completo e pela seleção cuidadosa dentre os diversos asanas que professores e terapêutas podem adequadamente traçar programas de prática para estudantes com múltiplas necessidades.

(...)

Meu guru acreditava que o método correto de vnyasa é essencial para se receber os benefícios completos da prática do yoga. O trecho a seguir, que traduzi do Yoga Makaranda [livro escrito por Krishanamacharya sobre a prática do yoga, a pedido do Maharaj de Mysore], captura perfeitamente esse sentimento.

“Anúncio Importante

Desde tempos imemoriais as sílabas védicas (...) são entoadas com as notas corretas (alta, baixa e equalizada). Da mesma forma, sruti (tom) e laya (ritmo) regem a música clássica indiana. A poesia sânscrita clássica segue regras estritas de chandas (metro), yati (cesura) e prasa (assemblage). Além disso, no ato devocional com mantras, nyasas (usualmente a circunscrição de diferentes partes do corpo às diversas deidades, com mantras e gestual) – tais como Kala nyasa, Jiva nyasa, Matruka nyasa, Tatwa nyasa – são partes integrais. É da mesma maneira que yogasanas (posturas do yoga), pranayamas (exercícios yóguicos de respiração) e mudras (selos, fechos, gestos) têm sido praticados com vinyasas desde tempos imemoriais.

No entanto, nos dias atuais, em diversos lugares, muitas grandes almas que ensinam yoga o fazem sem os vinyasas. Eles tão somente estendem ou contraem os membros e proclamam que estão praticando yoga.

(...)

Que qualquer atividade feita sem os procedimentos corretos (niyama) não produzirá os resultados pretendidos é bem sabido de todos. Sendo este o caso, pode-se muito bem ressaltar que seria da mesma forma com qualquer prática elevada, como yoga, canto védico ou meditação com mantras. Por causa de associações errôneas, pessoas meramente interessadas em benefícios materiais praticam o perene yoga e outras disciplinas, mas não derivam quaisquer benefícios tangíveis.

Eu diria que existem duas razões principais para isso:

Elas não seguem as disciplinas de vinyasas e outras mencionadas nos textos.
Os seus professores não trazem as nuances do sistema quando ensinam. (...)

Assim como a música sem o tom (sruti) e o ritmo (laya) corretos não trará alegria, a prática dos yogasanas sem a obsrevância dos vinyasas não conferirá saúde. Neste caso, o que dizer de vida longa, força e outros benefícios?”